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Sobre a impotência da companhia

Acompanhar um ente querido adoecido é tão dolorido quanto estar adoecido.
Sério mesmo. Algumas vezes penso que é até mais difícil do que passar pela doença.

A impotência

Quando você vê um ente querido adoecido você se desdobra para fazer tudo aquilo que não faria enquanto isso não ocorresse: é a louça que lavas com mais prazer, é o cuidado com o filho que fazes além do trivial, é o travesseiro que levas até a cama com grato prazer… Enfim, o trivial passa a fazer parte da rotina com ênfase muito aumentada.

O que dói de verdade, e muito mesmo, é a certeza da tua impotência perante a doença: absolutamente nada do que faças resolverá a situação da noite pro dia. Nada. Nada mesmo.

Hoje durante a quimioterapia, ao ir buscar a Andi, me senti um nada frente a tudo – Nada do que eu fizesse mudaria aquele cenário. É horrível sentir-se impotente frente a realidade. A dureza do que é machuca mais do eu poderia pensar.

A dor de tocá-la com a infusão do quimioterápico e sentir tudo o que ela sentia sem estar no lugar dela foi algo entre maravilhoso e extenuante – Me sinto parte dela nessa história e a dor é maior do que eu poderia sentir.

Em contrapartida

Em troca dos meus anseios e medos recebo dela todo carinho e reconhecimento que uma pessoa precisa: aquele sorriso que encanta à todos está ali presente nas minhas maiores dores, ainda que elas tenham origem nas ‘coisas’ dela.

Ela sorri e aquece meu coração. E o sorriso dela é algo que é fora do comum.
Ela realmente não tem clone nesse mundo. É de um calor sem igual. Uma onda de sabor. Um vento de desejos. Uma nuvem de alegria.

Se estiveres acompanhando alguém em situação semelhante

Atente para os detalhes:
Tudo, absolutamente tudo se define nos detalhes. O minuto de atenção, o pensamento em prol da cura, o beijo quente, a reza crente, a meditação profunda, enfim tudo faz diferença nessa hora.

Ser profundo é ser presente: esteja com a pessoa e sinta o quanto tua presença faz diferença para ela.

Ser raso é acreditar que não fazes diferença para ela.

Onde quer que você vá, vá com todo o coração.
(Confúncio)

Sentir é estar vivo

Quando interages com esse mundo o fazes por meio de teus sentimentos, ou seja, tuas emoções. A pele da tua alma são tuas emoções. E aqui te provoco: quais são teus sentimentos nessa hora? Desejas ser feliz mas a infelicidade te acompanha? Bem vindo ao clube, tens de ser feliz para que o universo retribua. A troca é essa.

Você não precisa disso ou daquilo pra ser feliz. Quando estiveres feliz aquilo ou isso lhe serão entregues. Inverta a equação e o universo lhe será entregue.

Difícil mas creio nisso

De Pierre Lévy:

Quando nos vemos de verdade, quando nos compreendemos, quando estamos em contato conosco mesmo e quando sentimos nosso coração, deixamos de projetar nos outros as necessidades de nosso ego. Podemos então ver o próximo como uma alma e não mais como conceitos, aparências ou julgamentos. A alma só existe por seus atos e suas afeições, o amor que dá a si mesma, o sofrimento que inflige a si mesma. A alma só existe na relação com o amor e o sofrimento. Navega entre dois estados: a ausência de si mesma e a conexão.

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A benção da maternidade

Hoje escrevo sobre como me senti quando soube que estava com câncer e a relação com ser mãe.

Na maior parte do tempo vivemos como se não fossemos morrer… deve ser um mecanismo de defesa para não ficarmos ansiosos com a morte… Ao se deparar com o dignóstico de uma doença supostamente grave o primeiro pensamento que vem a mente é : “Vou morrer logo”!

Juntamente com o medo de morrer logo vem o medo de perder ou deixar as pessoas que amamos. Ao saber do diagnóstico, o maior pavor que tomou conta de mim foi: “Como o Dmi ficará sem a mãe e como Marco ficará sem a esposa e mãe do seu filho?” Tenho certeza que eles conseguiriam viver bem mas pensar nisso, mesmo agora que estou tranquila com esse momento de vida ( a doença), me fez e faz chorar de angústia.

Sim, eu estou tranquila, mas isso (morrer) pode acontecer a qualquer momento, com qualquer um, independente de estar doente ou não. Então comecei a organizar minha mente, meus pensamentos para conseguir lidar com a incerteza da vida e não sofrer antecipadamente por algo que não aconteceu.

Como organizei minha mente, com perguntas, resposta e ações:

1ª O que é mais importante na minha vida? Meu filho, meu marido, minha família e meus amigos.

2ª Como posso estar mais próxima deles? Dando prioridade, sempre que possível, para eles.

3ª Como aproveitar melhor todos os momentos com as pessoas que amo? Primeiramente expressando meus sentimentos por elas. Sei que ainda preciso melhorar muito isso, mas cada vez mais consigo

4ª Qual imagem/momentos quero deixar registrados em meu filho? Que eu o amo infinitamente, que eu sofro, choro mas sou forte. Quero que ele lembre da minha alegria de viver… Que ele consigo usar o lema da Pollyana (o jogo do contente) assim como eu aprendi desde criança. Que ele lembre de nossas brincadeiras, danças, idas ao cinema, nossas tardes vendo TV, as lasanhas que fiz que ele tanto gosta, a profissional dedicada e que, sim, precisamos trabalhar muito (mas com limite para não prejudicar a vida pessoal) para sermos pessoas melhores… enfim, cada dia descubro mais sobre mim que quero compartilhar com meu filho!

Tenho muitas outras perguntas, e acredito que sempre terei muitas,  mas serão para os próximos posts (hehehe)…

Agradeço muito essa missão de ser mãe e a cada dia que passa entendo mais a frase que diz que “aprendemos a ser filhos quando nos tornamos mãe/pai” assim como, valorizo cada dia mais a minha mãe e a tudo que ela fez/faz para me ajudar a ser que sou.

“De tudo o que tinha de mais bonito pra ser nesta vida, eu fui: Mãe!”❤️ (Rachel Carvalho)

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O que uma foto me ensinou?

Aprender.  Sempre.

Ler é uma possibilidade que se multiplica em direção ao infinito. Mais do que simplesmente fornecer novas palavras, ler te permite ir além do que experiências com apenas as tuas vivências.

Por hábito, aqui em casa, lemos praticamente todos os dias – Muitas vezes trocamos a experiência passiva da televisão pela experiência ativa da leitura. E isso é fantástico ao nos permitir ir muito além do que poderíamos imaginar.

Leia tudo o que for agradável ao teu coração (diversos livros na foto)

Creio que a quantidade de livro que tu venhas a ler não te definirão, contudo, a qualidade deles é provável que sim. Independentemente dessa visão ler te fará mais atento aos aspectos da vida que podem lhe passar despercebido. Assim, a quantidade que me refiro, tem ligação direta com esta perspectiva: mais, nesse caso, pode significar melhor.

Um estado não pode decidir como te comportarás (note as unhas)

Passar por uma situação de estresse intenso não pode definir como te comportarás frente às tuas rotinas de vida. A unha bem cuidada da Andi me fez pensar na importância de manter a rotina sobre as coisas que lhe são familiares: teus ritos devem permanecer os mesmos – Ainda que os fatos não favoreçam.

Serenidade é uma opção de vida, não um resultado (a calma na leitura)

Queremos que certas situações nos sejam favoráveis para alcançarmos a ‘calma’. Em verdade a calma nos favorece para que alcancemos ‘determinadas’ situações. Expandir teus conceitos por meio da leitura lhe permite encarar fatos com perspectivas distintas que, por vezes, apenas a tua experiência não te permitiria.

Embora difícil, trabalhar é a melhor forma de manter a sanidade (uniforme de trabalho)

Parece simplório, mas não é: teu trabalho ocupa uma parte relevante da tua vida e isso representa uma expressão importante de quanto e como és nessa experiência de vida. Não quero dizer que não tenhamos nossas intercorrências com o trabalho – Não. Trabalhar é, na maior parte das vezes, uma experiência dura, contudo, uma atividade gratificante e maravilhosa de expressar todo teu ser por meio de recompensas. Pense nas pessoas que você já conheceu por conta do trabalho: isso te agrada? E quanto já aprendeste por causa das obrigações que o trabalho te trouxe? E as inúmeras lições que estão ali do teu lado te esperando para enxergar?

Sozinho: assim somos e nos sentimos (mas nossa visão é turva)

Ler é uma atividade intrinsecamente solitária: a interpretação que fazes da leitura (pense nisso que estás lendo neste momento) é de uma natureza belíssima e maravilhosa. És o que és pela interpretação que fazes disso tudo que ocorre ao teu redor. Como não se maravilhar com tudo isso?

Veja, mesmo que a leitura que a Andi fez fosse solitária, eu passei por ali e captei o momento. Naquela hora a percepção dela era a de que estivesse sozinha.

Mas não estava.

Nem nunca estará.

— Marco

 

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O vazio que te incomoda

Sobre o saber e a ignorância

Sempre tive comigo que estudar era uma das minhas obrigações. Desde minha adolescência comecei a ler tudo: de bulas de shampoo à poemas variados – praticamente tudo me atraía. E não parei mais desde então. Leio sobre temas que as vezes eu mesmo não entendo porque – Coisas do tipo literatura indiana aos meus preferidos Biografias (se ainda não leu sobre o Lincoln, por favor, faça – Vale o mesmo sobre Jorge Paulo Lemann).

Quando recebemos o diagnóstico da Andi, além da pancada prevista, foquei minha atenção a estudar tudo o que precisava e poderia a respeito do câncer, especialmente o que ela tinha. Fugi dos blogs que relatavam a experiência e foquei nos artigos científicos, acho que aí foi onde comecei a entender a importância da ignorância e a ciência.

A larga maioria dos artigos científicos nacionais iniciam relatando:

O câncer de mama continua sendo uma das principais causas de morte de mulheres no mundo…

Ou:

O diagnóstico de câncer de mama é vivenciado como um momento de imensa angústia, sofrimento e ansiedade. Durante o tratamento, a paciente vivencia perdas, por exemplo, físicas e financeiras, e sintomas adversos, tais como: depressão e diminuição da autoestima, sendo necessárias constantes adaptações às mudanças físicas, psicológicas, sociais, familiares e emocionais ocorridas.

Ou ainda:

O câncer de mama está entre as neoplasias com maior ocorrência no mundo e mesmo com todo avanço em relação ao diagnóstico e tratamento, é visto por muitas pessoas como uma sentença de morte.

De sorte que a partir daquele momento comecei a me irritar com o conhecimento que adquiria – Veja não estava irritado pela possibilidade mas sim pelas criações de futuro que eu tinha em minha mente após ler o que li.

Assim comecei a me indagar sobre o quanto deveria estudar: mais? Negar? Deixar pra lá?

Não tenho respostas pra isso ainda mas não parei. As vezes dói. Mas na maior parte do tempo me sinto completo ao poder ajudar a criar uma visão de apoio à Andi – E isso depende de eu estudar tudo o que puder. Mas ainda assim dói.

Aprenda tudo. Guarde o que lhe pertence.

Com essa perspectiva comecei a organizar minha mente para reter apenas o que fazia sentido para o contexto que eu vivia no momento – Me questionava ao ler:

Isso me ajudará a interpretar melhor a minha perspectiva de vida?

Se sim, então eu guardava com atenção aquele conhecimento.

Se não, eu descartava sem nenhum remorso.

O vazio lhe incomoda?

Ainda que conhecimento e ignorância sejam pólos de um mesmo espaço você pode se sentir incomodado com algo que nem a ciência, sabedoria, religiosidade ou espiritualidade lhe deixam saber com precisão o que é. E é assim que muitas vezes me sinto. Sozinho dentro de uma multidão. Multidão de pessoas, pensamentos e sentimentos.

Isso não me impede ir adiante, porque lá no fundo sei que o propósito é maior que minha ignorância. E maior que meu conhecimento.

Não deixe o vazio perpetuar-se na tua existência. Experimente. Sinta. Viva. Seja.

Quando algo sai da tua visão não significa que não possas ver

Enquanto escrevia este texto o Dmitri andava de bicicleta na rua do meu condomínio: era interessante poder vê-lo enquanto ele fazia o que gostava mas também percebia que ao mesmo tempo que o meu medo o podava (eu havia ditado os limites de onde ele poderia ir) a visão de mundo dele também se limitava. Dado o meu medo o mundo dele se limitava.

Ver e não enxergar não significa ausência.

Enxergar com o coração e sentir pode ser mais eficaz do que ver com os olhos.

Assim enxergo a vida, e, principalmente, nossos passos adiante.

 

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Veja somente o que o teu coração enxerga

Quando tudo isso começou nós tomamos uma decisão: a de encararmos tudo de frente. Todos os desafios que um câncer provê seriam olhados de forma direta e com todo nosso entusiasmo. É Entusiasmo (do grego en + theos, literalmente ‘em Deus‘).

Nós nunca falamos a respeito disso: sobre como iríamos enfrentar essas coisas. Engraçado que eu (Marco) aqui escrevendo não me recordo de ter dito assim pra Andi:

Olha, vamos enfrentar isso dessa forma… Com a cabeça em pé… Blá, blá, blá…

Nada. Nadica mesmo. A gente se olha e se entende. Na maior parte das vezes funciona assim. O Não Dito é tão importante quanto o Dito. E assim mais de 20 anos estamos na jornada juntos. As regras mais necessárias são esclarecidas. Essas de urgência nem precisam visto que nossas regras já nos são claras.

Dessa forma fica claro que o perpetuado em nossos corações é aquilo que desejamos: apenas a parte boa da história permanece. Nada além. Dores nascem para serem sentidas e esquecidas. Amores nascem para se eternizar. E tudo nasce para sentirmos e experienciarmos.

Muitos dos sinais que recebemos vieram através de pessoas que estavam distantes ou haviam se aproximado recentemente.

Duas delas são muito especiais para mim. São 2 telefonemas. Sério mesmo, 2 telefonemas no meio dessa turbulência de sabores (e alguns dissabores) são extremamente marcantes.

Telefonema 01

07:05 de um Quinta feira. Seria o primeiro dia de Quimioterapia. Saí mais cedo pra poder iniciar o trabalho antes e sair no horário de acompanhar a Andi.

Deixei o Dmitri na escola, dentro daquela rotina que nos era peculiar – Tchau Pai, Beijo, Te amo… Ops, lembrei que preciso tomar café da manhã, senão a coisa não funciona.

Parei perto da escola: tem um cafezinho muito simpático ali que há tempos queria visitar. Escolha boa. Algumas árvores e muitos cheiros. Café, comida, pássaros, enfim, vida.

Fiz meu pedido. O (hoje tradicional) Pastel Assado de Frango – com massa integral – E minha xícara de café. Aguardando o pedido o telefone toca e eu penso:

Caramba nem está tão próximo das 08:00 h – Hora em que normalmente a coisa começa a correr, pensei com meus botões: Quem poderia ser naquele horário?

Olho pro telefone e vejo a foto de um amigo. Mas daqueles que o universo havia acabado de entregar. Há poucos meses havíamos nos conhecido, embora eu já conhecesse a esposa dele há alguns anos – Fato que apenas o Facebook veio me mostrar algum tempo depois de nos conhecermos.

Atendi e larguei:

Cara não tô te devendo nada (ainda)… Rimos juntos.

Ele:

Te liguei pra saber como vocês estão?
Eu e minha esposa falamos a respeito de vocês. E sabemos um pouco do que vocês estão passando.

Caralho! Como pode um telefonema fazer um marmanjo do meu tamanho chorar?

Tu tens noção de quão simples isso é? Tens noção de quão importante isso pode ser pra alguém?

Tem alguém te esperando? Sim? Liga agora. Vais ser libertador pra ambos. Te garanto.

O mais simples, as vezes, é o mais difícil.

Telefonema 02

Já estávamos há algum tempo com o diagnóstico confirmado e nos preparando para os passos seguintes. Em casa no fim de um dia a Andi estava no sofá e o telefone dela toca:

O amigo pergunta algo que deve ter sido: “Como estás?”, e ela:

Estou ótima!

Olhei pra ela e pensei: caramba realmente ela está ótima. Como não estaria ótima com aquele sorriso estampado no rosto? Como poderia não estar com as pessoas que ela tem ao redor? Como ela não estaria feliz sendo ela quem é? Ela realmente é demais. É além de tudo o que pensei em ter ao meu lado. Ela é uma benção.

Ele:

Venham pra SP. Vai ser importante para vocês.

Assim que conseguimos conciliar fomos à SP e nos encontramos com ele. Foi mais um presente que recebemos. Por muitos aspectos, especialmente porque fomos recebidos por um casal de amigos que há anos não víamos. E muita luz nos foi entregue naqueles dias.

Um telefonema e um convite. Com uma boa dose de boa vontade tudo se fez.

Tem como ignorar a felicidade que Deus nos entrega a todo momento?

Se Ele fala com a gente por meio de Sentimentos, Pensamentos e Experiências como poderíamos ignorar tanta coisa boa ao nosso redor?

Ele está aí falando contigo, basta que enxergues o que o teu coração quer lhe mostrar.

Marco

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Ficar careca foi libertador…

carecaComo hoje (14/03) é dia do Careca ou de quem está careca aproveito para expressar como foi a minha aventura de ficar careca.
Hoje vejo como uma aventura mas antes de passar por essa experiência via como um pesadelo.
Como sou farmacêutica e já trabalhei com pacientes que faziam quimioterapia, ao me deparar com uma paciente que perderia o cabelo eu falava isso é temporário, depois o cabelo volta e volta mais bonito. E agora isso iria acontecer comigo, e mesmo sabendo que é temporário, a sensação de pânico, devido ao apego ao cabelo, tomou conta de mim.
Antes mesmo de saber qual o meu tipo de câncer , eu tinha quase que certeza que precisaria fazer uma quimioterapia que iria cair o cabelo, mesmo tendo esperanças de que não precisaria…enfim.
Assim, resolvi o cortar o cabelo acima do ombro, o que para mim era um grande desafio. Das duas uma: ou já estaria começando a me preparar para ficar careca, ou , eu já praticava o desapego ao cabelo… E consegui gostar de mim com o cabelo curto. Parece bobeira mas realmente eu tinha muita insegurança em ter o cabelo mais curto.
Quando comecei a fazer a quimioterapia já tive a ideia de raspar o cabelo antes de mesmo de começar as sessões, para  sofrer tudo de uma só vez e não aos poucos vendo as mechas caírem. Mas o Marco, me convenceu a ter calma e esperar o momento correto. Depois de 12 dias da primeira quimioterapia, quando acordei percebi que o cabelo estava fraco e caia só de puxar levemente… Chegou o dia de raspar!
O Marco me acompanhou e fomos onde ele corta seu cabelo.
Eu estava tensa mas ao mesmo tempo curiosa com a experiência.
Pensei que não conseguiria olhar o cabelo sendo raspado e que sentiria vergonha de outras pessoas verem eu passando por isso… mas nada disso aconteceu.
Consegui me olhar, rir da situação, me emocionei com o carinho que recebi do rapaz que me atendeu e ainda sai de lá sem colocar o lenço que eu havia levado…
Andei pelas pessoas assim, careca, e nada mudou…
Eu continuo a mesma, ou melhor, eu me senti mais forte e desapegada da aparência.
Tive a real sensação de que cabelo cresce, de que não preciso ter cabelo para me sentir feliz comigo mesma.
Enfim, ficar careca foi LIBERTADOR!!!!
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20 anos em 2 min

Essa história tem mais de 20 anos. Sério. Mais de 20 anos que eu conheço a pessoa que está ao meu lado TODOS OS DIAS. Tú tens noção de como isso é importante?

Quando nos conhecemos eu sentia (mas não sabia) que ela seria a mulher da minha vida. Com 15 anos é difícil ter qualquer percepção de vida que vá além da balada do próximo final de semana, mas, com ela era diferente. Eu sentia algo além do trivial.

É certo que esse sentimento não impediu a gente de passar por tudo o que um casal novo deve passar: dúvidas, questionamentos, incertezas e principalmente uma vontade gigante de fazer tudo do melhor jeito possível.

Só tenho gratidão pelas possibilidades que essa decisão (de se unir tão jovem) nos trouxe: somos próximos, nos conhecemos em profundidade e estas escolhas nos trouxeram até aqui – Com as dores e os amores destas escolhas.

Quando decidimos ter um filho os céus nos brindaram com o Dmitri – Uma pessoa fantástica e absolutamente fora do comum. Um filho cheio de carinho e amor que nos acompanha em tudo. Ele foi o primeiro bebe de um grupo de amigos, e, com isso, teve a oportunidade de viver em grande proximidade com adultos, e isso fez muito bem a ele. Acho até que ele sempre foi mais velho que nós. Ainda acho isso. Espíritos velhos nos trazem essa percepção.

Das maiores dúvidas que tivemos muitas passaram pelo âmbito profissional: NOSSA SÓ ISSO DARIA UM LIVRO. Mas é fato consumado que hoje tenho plena consciência que nossas escolhas foram perfeitas e meu sentimento de gratidão é enorme.

De tudo que aconteceu nos últimos anos (22 pra ser mais exato) a única certeza que tenho é: ESTOU GRATO POR TUDO!

Gratidão, paz e saúde para nós! Você (que lê) e eu que escrevo.

Marco

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Sinta a presença de Deus

Hoje faz 1 mês e quatro dias que tivemos a confirmação que tenho câncer de mama.

Antes mesmo da confirmação do diagnóstico os acontecimentos nos fizeram refletir sobre a vida e estamos tendo diariamente várias lições.

Uma das lições de hoje foi “Sinta a presença de Deus“:

Decidimos tomar café numa confeitaria que esporadicamente nos damos o luxo de ir (antes do trabalho) . Lá há um senhor que nos atende com certa frequência, e que, sempre foi muito simpático e atencioso puxando assunto e sendo muito cordial.

Nos servimos como de costume e quando estávamos na mesa tomando café esse senhor veio nos cumprimentar e questionou se eu estava melhor.

Em nenhum outro dia havíamos conversado com ele sobre o que estamos passando mas ele deve percebido que nas semanas anteriores eu estava com um curativo no braço e que agora eu estava usando lenços na cabeça.

Ele não nos questionou o que eu tinha, simplesmente perguntou se eu estava melhor. Prontamente respondi que sim e ele nos surpreendeu com o seguinte comentário:

“Isso (a doença/tratamento) é Deus nos dando a oportunidade de continuar a viver. Eu já fiz cirurgia cardíaca e fiquei semanas internado mas tiver a oportunidade de melhorar e tenho muito ainda a fazer nessa vida”.

Nós sentimos fortemente a presença de Deus e mais uma vez nos emocionamos e agradecemos por termos essa experiência.

Andi & Marco